20 de
agosto de 2014
Um
produto químico que tem sido associado com o crescimento celular do câncer vem
sendo utilizado por milhões de pessoas diariamente, em suas pastas de dente.
A empresa
por trás do problema, a Colgate, insiste que o triclosan usado para evitar a
doença da gengiva é seguro, já que o creme dental Total foi aprovado em 1997
pela FDA (Food and Drug Administration).
Mas os
documentos toxicológicos utilizados pelo FDA para aprovar o creme dental só foram
liberados no início deste ano depois de um Freedom of Information Act (Ato de
Liberdade de Informação), por uma ação judicial realizada no ano passado – e
revelou que a agência tomou como base uma ciência apoiada e patrocinada pela
empresa para chegar a sua conclusão. Os dados foram revelados pela Bloomberg
News.
O
relatório de 35 páginas revela que a FDA tinha a preocupação de que o
triclosan pudesse aumentar o risco de câncer – mas a Colgate rebatia, dizendo
que a substância era apenas problemática em grandes doses.
Mas as
evidências disponíveis na época, bem como os estudos mais recentes, mostram que
há, de fato preocupações com o produto químico – incluindo partos prematuros e
ossos subdesenvolvidos em animais.
“As
páginas recentemente lançadas, em adjunto a novas pesquisas sobre o triclosan, levantam questões sobre se a
agência fez a devida diligência na aprovação total, há 17 anos”, disseram
cientistas a Bloomberg.
Em 2010,
um estudo relacionou o triclosan, que tem sido comumente usado para reduzir a
contaminação de bactérias, a redução da fertilidade em camundongos. Já um
estudo de 2013 ligou-o a redução da produção de espermatozoides também nestes
animais.
E um
estudo de 2003 revelou a presença do triclosan na urina de 75% dos 2.517
norte-americanos – incluindo as crianças – que foram testados pelos Centros de
Controle e Prevenção de Doenças.
Apesar
das evidências – incluindo páginas no relatório mostrando como testes
encontraram má formações ósseas fetais em ratos e camundongos – a Colgate
considera os resultados irrelevantes porque eles foram conduzidos em animais.
“Criamos
um sistema no qual testamos esses produtos químicos com a população humana”,
disse o cientista Thomas Zoeller em entrevista ao Bloomberg. “Eu endosso a
ideia de que eles são todos seguros. Mas quando temos estudos em animais que
sugerem o contrário, eu acho que nós estamos assumindo um risco enorme”,
comentou.
Ainda
assim, a Colgate disse que as 35 páginas não provam que o produto químico é
prejudicial aos seres humanos e disse que a sua segurança está provada por mais
de 80 estudos clínicos realizados em 19.000 pessoas.
“Nos
quase 18 anos que Colgate Total tem estado presente no mercado do EUA, não
houve nenhum sinal de problemas de segurança a partir de relatórios de eventos
adversos” disse o porta-voz da empresa, Thomas DiPiazza.
Ele
acrescentou que, embora a FDA tenha se preocupado com a carcinogenicidade da
química, um estudo realizado em 1997 constatou que ela não representa um risco
de câncer para os seres humanos.
A Colgate
revelou que não tem planos para reformular o creme dental Total.
A FDA
disse em seu site que o risco do triclosan em humanos é “desconhecido”
– mas, os resultados encontrados em animais deu-lhes uma razão suficiente para
executar outros testes.
Reguladores
de medicamentos estão agora revendo os perigos do produto químico, mas eles só
vão voltar a verificar a aprovação da Total, se encontrarem um motivo
suficientemente relevante.
Em um
sinal da preocupação com a substância em questão, os legisladores de Minnesota
proibiram a substância, em maio. Avon e Johnson & Johnson também anunciaram
planos de cortar a substância de seus produtos.
Em 2010,
a União Europeia proibiu o triclosan em materiais que entram em contato com
alimentos.
No site do produto a Colgate
brasileira tenta mostrar a segurança do triclosan em seu creme dental:
O Triclosan
é seguro para uso em um creme dental?
Sim. Diversos estudos de segurança foram conduzidos pela Ciba-Geigy, fabricante do triclosan, pela Colgate e por universidades renomadas. Colgate Total foi introduzido internacionalmente em 1992 e hoje é vendido em 105 países de todo mundo. Associações Odontológicas independentes de mais de 30 países, incluindo as associações americanas, agraciaram selos de aceitação para o Colgate Total.
Sim. Diversos estudos de segurança foram conduzidos pela Ciba-Geigy, fabricante do triclosan, pela Colgate e por universidades renomadas. Colgate Total foi introduzido internacionalmente em 1992 e hoje é vendido em 105 países de todo mundo. Associações Odontológicas independentes de mais de 30 países, incluindo as associações americanas, agraciaram selos de aceitação para o Colgate Total.
Sabonete e Outros Bactericidas Podem Trazer Risco à
Saúde
Estudo
indica que triclosan e triclocarban
podem interferir no sistema endócrino e afetar desenvolvimento de fetos.
Grávidas e crianças são mais vulneráveis
Um novo estudo divulgado pela Sociedade
Americana de Química (ACS, na sigla em inglês) indica que o
triclosan e o triclocarban, dois assassinos de germe comumente empregados em
sabonetes, detergentes e outros produtos antibacterianos de uso diário,
representam um sério risco à saúde.
Fórmulas
com essas substâncias podem interferir no sistema endócrino dos seres humanos e
afetar o desenvolvimento de fetos, aponta o relatório que será
apresentado na próxima quinta (14) durante evento nacional da Associação sobre
temas emergentes na ciência.
Grávidas
e crianças são os grupos mais vulneráveis. Os pesquisadores detectaram
triclosan em todas as amostras de urina de mulheres grávidas que analisaram e
em cerca de metade das amostras de sangue do cordão umbilical. Isso significa
que a substância é transferida das mães para os fetos. Triclocarban também
apareceu em muitas das amostras.
“Se
você cortar a fonte de exposição, eventualmente, o triclosan e triclocarban
seriam rapidamente eliminados pelo corpo humano, mas a verdade é que fazemos
uso universal destes produtos químicos, e, portanto, também sofremos uma
exposição universal“, diz o doutor Rolf Halden, principal investigador do
estudo pela Universidade Estadual do Arizona.
Perigo oculto
Há um
crescente corpo de evidências que mostram que os compostos podem levar a
problemas de desenvolvimento e reprodutivos em animais e, potencialmente, em
humanos.
Em
estudos com animais foi demonstrado que essas substâncias atrapalham a
regulação dos hormônios da tireoide (que afetam o metabolismo e o desenvolvimento
do cérebro), a síntese de testosterona (diminuindo a contagem de
espermatozoides) e ação do estrógeno (causando início precoce da puberdade).
A
exposição ao triclosan também é associada ao enfraquecimento de músculo do
coração e dos músculo esqueléticos. Em pesquisa da Universidade da Califórnia
em Davis, peixes expostos ao triclosan no ambiente aquático eram incapazes de
nadar corretamente. E ratos tiveram redução de 25% nas contrações dos músculos
do coração 20 minutos após terem sido expostos a uma pequena dose.
Além
disso, algumas pesquisas sugerem que os aditivos podem contribuir para a
resistência aos antibióticos, um problema crescente de saúde pública.
Para
piorar, a maioria destes produtos vai parar no esgoto, atingindo cursos
de água e sendo transportados amplamente por todo o ambiente.
Triclosan
é um dos produtos químicos mais frequentemente detectados em riachos em todo os
EUA e ambos, triclosan e triclocarban, são encontrados em altas concentrações
nos sedimentos de lodo de esgoto, onde podem persistir por décadas.
Regulação
Nos
Estados Unidos, o Food and Drug Administration (FDA) e a Agência de Proteção Ambiental (EPA) estão revendo o uso e os efeitos desses
compostos.
Recentemente,
Minnesota se tornou o primeiro estado americano a aprovar uma proibição sobre o
uso de triclosan em determinados produtos; a lei entrará em vigor em janeiro de
2017.
Algumas
empresas, como a Johnson & Johnson e Procter & Gamble anunciaram que
estão retirando o composto de alguns produtos.
No Brasil, o triclosan é regulado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A concentração máxima permitida é de
0,3% em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Não há, contudo,
qualquer tipo de recomendação de limitação ou condições de uso.
Já o
triclocarban consta na lista de substâncias que os produtos de higiene pessoal
e cosméticos não devem ter, salvo algumas exceções – ele pode aparecer em
produtos destinados a serem enxaguados em uma concentração máxima no produto
final de 1,5%.
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